O Brasil deverá receber pela primeira vez, em dezembro, um pouso do A380 – a gigantesca aeronave de dois andares desenvolvida pela Airbus, com capacidade para transportar até 800 passageiros. A companhia aérea alemã Lufthansa demonstrou forte interesse em realizar um vôo experimental com o novo avião, fazendo-o aterrissar no aeroporto internacional de Cumbica, em Guarulhos (SP). Os alemães já negociam inclusive com a Infraero, empresa responsável pela administração dos aeroportos brasileiros, autorização para esse vôo.

Em 26 de julho, altos executivos da Lufthansa fizeram uma reunião com a Infraero e declararam o Brasil como “mercado potencial” para o uso do A380 em suas rotas internacionais. O encontro contou com a participação de Peter Koser, diretor-geral da Lufthansa para aeroportos no Brasil, Christian Schmidt, gerente do projeto do A380 da companhia aérea, e Dan Cohen-Nir, diretor de programas da Airbus.

Não se trata inicialmente, como é óbvio, de um vôo comercial, até porque a entrega dos primeiros “superjumbos” atrasou em seis meses e provocou uma crise de confiança que derrubou em um terço o valor das ações da EADS, a construtora do avião. O mais provável, no entendimento da Infraero, é que seja usado um protótipo do A380 no vôo-teste.

Segundo o diretor de operações da estatal, Rogério Barzellay, a Lufthansa comunicou o interesse de implementar futuramente o “superjumbo” em uma das duas freqüências diárias que faz para a Alemanha. Hoje a aérea usa dois modelos diferentes nessa rota: um 747-400, da Boeing, e um A340-600, da Airbus. O vôo seria Frankfurt-São Paulo-Buenos Aires. Procurada pelo Valor, a Lufthansa afirmou, por meio da sua assessoria, que implantará comercialmente o A380 apenas no fim de 2007 e não confirmou oficialmente o interesse em utilizá-lo para voar a Guarulhos.

Barzellay informou que o teste deverá ser feito em dezembro, em Cumbica. Corre também no mercado a informação de que a Air France, que receberá os seus primeiros superjumbos em abril, utilize a aeronave em uma das suas rotas para São Paulo ou para o Rio de Janeiro. A diretora-geral da Air France-KLM no Brasil, Isabelle Birem, nega essa possibilidade por enquanto. A companhia francesa tem dez freqüências semanais ligando São Paulo a Paris, que serão acrescidas de mais duas a partir de novembro, além de um vôo diário saindo do Rio de Janeiro, usando um Boeing 747-400.

A Infraero tem conduzido estudos para checar a viabilidade dos principais aeroportos brasileiros em receber o A380. Por ser mais pesado e com asas mais extensas do que os maiores modelos da atualidade, o advento do superjumbo vem exigindo investimentos e reformas mesmo em aeroportos como Heathrow, em Londres, que prepara as suas pistas para receber o novo gigante.

No caso brasileiro, a Infraero constatou, nos estudos que concluiu sobre a possibilidade de receber o A380 nos aeroportos brasileiros, não haver problemas em duas áreas importantes – comprimento e infra-estrutura das pistas, e manobrabilidade da aeronave. No que se refere ao taxiamento do superjumbo, “o problema é mínimo”, ressalta o diretor de operações da Infraero. “Só uma cerca que atrapalha os movimentos da aeronave no Galeão, mas é algo bem fácil de resolver.”

Dois gargalos, porém, devem exigir investimentos da estatal para serem superados. O primeiro refere-se às pontes de embarque para passageiros, conhecidas tecnicamente como “fingers” – aqueles tubos que conectam diretamente a sala de embarque ao interior das aeronaves. Como o A380 tem dois andares, ele precisa de uma ponte dupla. “Só temos uma posição em Guarulhos com ‘finger’ duplo. Se houver dois pousos ou decolagens em horários semelhantes, isso cria um gargalo”, informou Barzellay. “No Galeão, não há nenhuma ponte desse tipo”, acrescentou.

A segunda restrição são os pontos de abastecimento de combustível. Como o corpo do superjumbo é muito grande, o posicionamento da aeronave em Guarulhos ou no Galeão não permite que ela seja abastecida simultaneamente ao embarque ou ao desembarque dos passageiros. Para encher o tanque dos aviões, são usadas mangueiras que saem de dutos subterrâneos, e esses pontos precisariam de adaptação para evitar o abastecimento por caminhões-tanque.

Barzellay garante que a estatal está disposta a fazer os investimentos necessários, de forma ágil e em quantos aeroportos sejam necessários, desde que haja interesse “firme” das empresas aéreas em usar o A380 “de forma contínua”. “Não pode ser algo só para a alta temporada. Os problemas não são impossíveis de serem resolvidos, mas não podemos investir para receber os aviões só por uma ou duas semanas de pico”, disse Barzellay. “O que eu posso garantir é que não será a Infraero um impeditivo de o A380 pousar no Brasil”, emendou.

FONTE: Valor Econômico – Daniel Rittner – São Paulo/SP

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