Na última sexta, centenas de funcionários fizeram uma manifestação pacífica no aeroporto Santos Dumont, no Rio. O sensacionalista jornal “O Dia” colocou outdoors na linha amarela insinuando que a VARIG teria desaparecido, com dizeres que não vale a pena repetir aqui.

O governo brasileiro não se pronuncia sobre a enorme dívida que teria com a empresa desde a época do Plano Collor: seis bilhões de reais, segundo seus funcionários. Lula não se manifesta sobre o assunto e os pré-candidatos Alckmin e Garotinho não estão nem aí. Parece que há muitos “interesses” por trás da história da VARIG. O fato é que milhares de funcionários e suas famílias podem ficar na rua da amargura de uma hora para outra. E o Brasil pode ficar sem uma empresa que sempre dignificou o nome do nosso país no exterior.

Em 30 de dezembro do ano passado, escrevi meu primeiro artigo para este site, o Direto da Redação, rebatendo críticas ao trabalho da companhia. Defendo a VARIG porque acredito na justiça brasileira e tenho certeza que ela voltará a ser a grande companhia aérea que sempre foi, premiada pela IATA pela qualidade do seu serviço e apoiada pela Star Alliance, parceira há muitos anos da empresa. Eis o texto que escrevi no finalzinho do ano passado:

VARIG: QUANDO A CULTURA PESA

Fiquei absolutamente horrorizado ao ler recentemente um artigo criticando a VARIG. Criticar é válido sempre. Mas, por favor: me venham com argumentos sérios. Se me permitirem, vou em defesa desse patrimônio nacional que é a VARIG. Se o passageiro experimentou atrasos, atropelos, decolagens que não aconteceram, turbinas que enguiçaram na última hora, fica aqui somente um lembrete: o mesmo, ou pior, já me aconteceu com todas, ou quase todas as companhias aéreas do mundo, desde a Lufhansa até a Delta, desde a Singapore Airlines até a Northwest ou a Jal.

Residente em Nova York, mas trabalhando em – sei lá quantos países do mundo, eu me encontro sentado em uma poltrona de avião, pelo menos uma vez por semana. E nao é raro esbarrar em atrasos, cancelamentos sem o menor aviso prévio, tratamento frio e descaso com passageiros. As companhias européias, então, ganham prêmios como o Oscar em Acting Badly, ou seja, atuação ruim: são péssimos atores, fingem mal. Não dão informação precisa, são dissimulados, desaparecem dos balcões e pronto: fica um passageiro perguntando pro outro. Todos com cara de tacho. Mesmo tendo pago a tarifa cara de business class (ainda bem que, no meu caso, a produção local ou casa de ópera paga e não sai do meu bolso), os passageiros, alguns furiosos, deitam no chão dos corredores, dos gates dos aeroportos mais desconfortáveis do mundo, como o de Frankfurt , ou o superhiperlotado Heathrow, onde não cabe nem mais uma mosca (islâmica ou cristã) e se resignam a algum próximo anúncio feito pelo sistema de auto-falantes.

Pois esse tipo de tratamento nunca aconteceu com a VARIG. E por que? Porque o diferencial está em sua cultura. Sim, a cultura de seus comissários de bordo e do pessoal de terra é algo fascinante. Não é à toa que a VARIG consta no cancioneiro popular, na poesia brasileira e não é à toa que existe uma enorme manobra política nesse momento querendo derrubá-la. Posso ser processado por isso, mas vá lá: enquanto teve poder, José Dirceu e seus asseclas estiveram intimamente ligados à presidência da TAM. A TAM tem as cores vermelhas e “comunistas”, stalinistas (que piada!) que tanto servem ao desastroso PT nesse momento. Dirceu jurou ódio à VARIG desde um belo vôo em que não conseguiu upgrade para a business class.

Falar mal da VARIG? Falência? Depois de 11 de setembro a indústria aérea inteira está em apuros. Muitas desapareceram, como a Swissair, por exemplo. A United e a Delta (e tantas outras) estão com problemas seríssimos! Aquelas que existem, existem porque têm um governo forte (europeu) por trás, como a British Airways, que recebe libras esterlinas para superar a crise e forte investimento da Airbus. E ainda conseguem subsídio de combustível da British Petroleum.

Por favor, se quiserem criticar uma organização maravilhosa e culta como a VARIG, que falha tão raramente, pelo menos o façam com delicadeza e saibam que por trás, assim como numa boa trama de Shakespeare, existem paredes que registram, ouvem e repetem, multiplicam, delatam impostores assim como o Rei Claudius, assassino do pai de Hamlet. Por que menciono o príncipe de Elsinore que era tão bom de palavras mas não conseguia ir para a ação? Porque a VARIG é o contrário! Na época do Tsunami, que acaba de completar um ano, ela mandou um avião para levar produtos, inclusive alimentos, para os sobreviventes. E não fez alarde disso. E isso é comovente!

Na época da ditadura ela fez milagres! Mas isso fica para um outro artigo. Um artigo que Zé Dirceu e Lula deveriam saber detalhadamente porque seus companheiros foram salvos pela VARIG!

Mas, assim como em Elsinor, no mundo politico brasileiro, onde as decisões são tomadas, tudo é podre como no reino da Dinamarca.

FONTE: Site Direto da Redação (Autorizado por Eliakim Araujo) – Gerald Thomas – São Paulo/SP

DEIXE UMA RESPOSTA

Please enter your comment!
Please enter your name here