O aumento do estresse e da fadiga no exercício profissional de pilotos e comissários compromete a segurança dos vôos. O alerta foi feito nesta terça-feira pelo assessor de Segurança de Vôo e Relações Internacionais do Sindicato Nacional dos Aeronautas (SNA), comandante Célio Eugênio de Abreu Júnior. Em depoimento na Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Crise Aérea, ele ressaltou que o fator humano é fundamental para a segurança, e que o estresse e a fadiga estão muito presentes nos acidentes.

No seu entender, isso se deve ao modelo gerencial das empresas aéreas, baseado na “filosofia de baixo custo”; no aumento do uso das aeronaves, cerca de 14 horas por dia; e “numa malha aérea extremamente apertada”. Abreu Júnior, que foi piloto por 33 anos, afirmou que, em nome da produtividade, as empresas têm levado a uma extrapolação quase diária dos limites de trabalho dos tripulantes, tendo em vista as condições da crise atual no sistema. Além disso, acrescenta, “o estresse dos aeroportos é levado para o interior dos aviões. Os pilotos não estão treinados para atuar nesse clima, com cobrança dos passageiros”, alertou.

No limite
Para o aeronauta, tudo o que se relaciona com infra-estrutura na aviação brasileira está operando no limite da sua capacidade instalada. Como exemplo, ele afirmou que os aeroportos mais movimentados do País, em São Paulo, estão com a capacidade esgotada e há insuficiência de equipamentos de auxílio à aproximação de precisão nos principais aeroportos. “Se tivesse havido investimento em equipamentos para pouso e decolagem com neblina não teriam ocorrido os problemas verificados nesta semana”, informou o piloto. Esses equipamentos, comuns na Europa e nos Estados Unidos, garantem o sistema de tráfego aéreo nessas regiões, segundo Abreu Jr. “É incompreensível o porquê de não se ter feito esse investimento, pois a Infraero tem dito que há recursos”, comentou.

Outro ponto ressaltado pelo piloto é a deficiência no número de controladores de tráfego aéreo e a falta de treinamento e capacitação desses profissionais, especialmente em relação à proficiência da língua inglesa, pois atualmente “só 2% deles estão capacitados a atender essa exigência”. Pelos padrões internacionais, segundo Abreu Júnior, todas as conversações no sistema de tráfego deveriam ser em inglês. Ele acrescentou que, a partir do próximo ano, a Organização de Aviação Civil Internacional (OACI) exigirá a proficiência na língua inglesa.

Além disso, segundo Abreu Júnior, “não há diálogo entre os gestores do sistema e os controladores, que precisam de tranqüilidade emocional”. Ele acredita que os regulamentos militares, muito rígidos, são incompatíveis com o controle de tráfego civil.

Previsão de crescimento
Para Abreu Júnior, não houve antecipação da previsão de crescimento do setor, que, nos últimos anos, tem crescido em média de 13% a 22%. O piloto respaldou o diagnóstico da crise aérea feito pelo funcionário do Instituto de Controle do Espaço Aéreo (Icea) Vinícius Lanzoni Gomes, em depoimento na CPI na semana passada. Segundo Lanzoni, as causas da crise são a incompetência administrativa, a má gestão do dinheiro público, a falta de gestão estratégica e a inexistência de um planejamento sério a médio e longo prazo.

Auditoria internacional
O piloto defendeu uma auditoria internacional independente no sistema, considerada fundamental para dirimir todas as divergências, salientadas inclusive nos diversos depoimentos. Na sua avaliação, somente essa auditoria poderia esclarecer o funcionamento, a quantidade dos equipamentos de navegação e aproximação de aviões, a real necessidade de controladores de vôo e a suposta ocorrência de zonas cegas no sistema de radares que cobrem o espaço aéreo brasileiro. “Nenhuma das medidas sugeridas pelo grupo de trabalho interministerial para gestão da crise, em novembro de 2006, foi implementada até agora”, criticou.

FONTE: Agência Câmara – Newton Araújo Júnior – São Paulo/SP

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