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Entrevistamos Tiago Senna, CEO da Itapemirim

Executivo nos contou um pouco da sua trajetória, dos planos da companhia aérea, aeronaves, rotas e ainda falou de tecnologia e empregos

O Portal Aviação Brasil deu início a uma série de entrevistas com grandes executivos do setor aéreo e para iniciar esta série, nada melhor do que conversar com o executivo que está a frente de um grande projeto, que aguarda 2021 com grande expectativa, assim como o grande público e seus futuros clientes. Entrevistamos Tiago Senna, CEO da Itapemirim Linhas Aéreas, companhia que em breve decolará um grande projeto.

Barros: Tiago, primeiramente agradeço a gentileza em conceder esta entrevista ao Portal Aviação Brasil e contar um pouco dos planos da Itapemirim Linhas Aéreas, que está deixando a todos ansiosos pelo seu início.
Conte-nos um pouco da sua trajetória na aviação e como está encarando este desafio de liderar uma nova companhia aérea?

Tiago Senna : Eu ingressei na aviação nos anos 80, comecei na TAM, Rio Sul, Varig, onde trabalhei até um pouco antes de seu fechamento, como piloto, e também tive funções administrativas e gerenciais. Em 2003 sai da aviação e fui para os Estados Unidos trabalhar em empresas que não tinham relação com a aviação. Quando retornei ao país montei três outras empresas e reingressei na aviação como consultor e também assumindo a diretoria comercial e de marketing da Passaredo em 2017. Foi neste ano que conheci o Sidnei Piva, presidente executivo do Grupo Itapemirim, que falou do projeto, que naquele momento, com algumas dificuldades, foi engavetado, mas que foi retomado justamente agora, nesta época de Covid-19, que na minha ótica, foi uma grande oportunidade, porque estamos tendo downsize de vários competidores, de mercado, e que permitiu melhores negociações, sabendo que o desafio é altíssimo.

Barros: Quais as diferenças, em unidades de negócio, que fazem com que o projeto ITA seja superior aos projetos da Itapemirim Express (aérea regional) e Itapemirim Cargo, braço de carga da empresa nos anos 90?

Tiago Senna: A Itapemirim dos anos 90, da família Cola, tinha uma foco no transporte de carga, que não era o core business da empresa, que era o transporte de passageiros. Montaram um grande empresa, que na época contava com o Dario Matsuguma, um profissional altamente competente, meu amigo, hoje na Azul e com passagens pela Absa/Latam, e estávamos juntos lá em 2017. A ITA de 90 tinha um foco completamente diferente e o grupo era outro grupo. Hoje nós temos uma empresa que é um grupo multimodal, não somente rodoviário, aéreo, mas ferroviário e temos um grupo extremamente fortalecido. Iremos transportar carga como qualquer companhia aérea transporta mas o foco é passageiro. O cenário de hoje é muito diferente do cenário de 30 anos atrás, o país era outro, a população era outra, a logística e a tecnologia eram outra coisa. Então, é muito difícil fazer uma analogia e dizer o que estamos fazendo de diferente, pois são negócios diferentes com focos diferentes.

Barros: Existem planos a médio e longo prazo para que a Itapemirim Cargo renasça, aproveitando este momento onde a carga aérea é o fator que mais cresceu na aviação em 2020?

Tiago Senna: Existe sim a intenção de ter um braço de carga, porque hoje considerando a capilaridade que temos no país e o nosso projeto, nós temos condições de fazer a primeira e a última milha, e este é o maior diferencial para os anos 90, porque o que movimenta muito o mercado são os pequenos volumes e a ncessidade de entrega gerado pelo e-commerce. Porque eles necessitam de uma entrega rápida e utilizam-se do correio e o correio da frota privada de aviação. Nós temos hoje condições de atender 48% do territorio nacional com nossa frota de carros, ônibus e até os aviões, e chegar a 80% da população. Só não há cobertura de ônibus na amazônia. No futuro, quem sabe, com aeronaves menores, poderemos atender. Mas neste primeiro momento passageiros e o cargo será sequencial, depois de estruturada a operação de passageiros, vamos continuar com o crescimento sustentável e começar a implantar o cargo. Depois que nossos porôes de aeronaves de passageiros estiverem cheios e demandarem a necessidade de cargueiros, ai sim, gradativamente vamos implantar os cargueiros.

Barros: Quais serão as cidades que receberão os voos iniciais da companhia?

Tiago Senna: Duas rotas, poderia dizer, São Paulo (Guarulhos)- Vitória e São Paulo (Guarulhos)- Brasília. As outras ainda não posso dizer, até por questões de sigilo e estratégia.

Barros: Sobre os hubs da Itapemirim, quais serão e qual é a estratégia de rotas? Se serão rotas inéditas ou se haverá sobreposição com alguma concorrente?

Tiago Senna: Teremos três hubs principais, Guarulhos, Confins e Brasília. Sobre a sobreposição, também por questões estratégicas, fico devendo esta informação a você.

Barros: Porque o Airbus A320 neste momento? Porque não um Boeing 737-NG ou um Embraer 195-E2?

Tiago Senna: Primeiro que a Boeing era a primeira opção, tivemos negociação melhor, mas não há pilotos de Boeing disponíveis no mercado brasileiro e nem facilidade de treinamento. A CAE tem poucos simuladores de Boeing e teríamos que mandar nossos profissinais para realizar os treinamentos nos Estados Unidos, na Panam ou outros centros de treinamentos.
Já o Airbus, em questão de mão de obra, infelizmente houveram muitos pilotos disponíveis pelo mercado, tanto da Latam quanto da Avianca Brasil, mas já tínhamos esse pessoal disponível no Brasil, com treinamento aprovado, com a ANAC, e checados. Financeiramente o Airbus se mostrou muito mais adequado que o investimento inicial. Operacionalmente não há quase diferenças de leasing e custo operacional. Vamos ter uma classe confort, de 168 lugares e algumas fileiras com pitch maior.
No caso do E2 não havia disponibilidade da aeronave no mercado e não queríamos entrar com o E1. Os valores de leasing são mais altos, a oferta de assentos menor e a disponibilidade de pilotos também menor, então, optamos pela linha Airbus, até porque fica mais fácil fazer a transição para o Neo, que é a nossa intenção. Uma vez que a nossa operação esteja estrutura, iremos inserir os Airbus Neo em nossa frota!

Barros: No plano de crescimento, a companhia adotará uma frota flexível de fabricantes ou deve trabalhar somente com a linha Airbus?

Tiago Senna: Vamos iniciar com 10 Airbus A320, mas como vamos pleitear operar Congonhas para o Santos Dumont, e essa versão do A320 não consegue operar lá, uma parte dos novos Airbus serão do modelo A319. A intenção é de no mínimo quatro aeronaves A319, mas não será no início das operações da empresa e sim na sequência, porque é necessário certificar a operação primeiro. Estamos também em conversas com a Airbus para tentar trazer as primeiras unidades do Neo em dezembro de 2021.

Barros: Há planos para ter uma feeder-line, como a Azul Conecta, com a Azul, ou apenas acordos operacionais como os da Gol com a VoePass?

Tiago Senna: O modelo que a Azul demonstrou operar pareceu bem eficiente, em ter a própria feederline, então faz muito sentido ter uma frota secundária, para operação regional, em aeroportos menores e interligando inclusive com a nossa forta de ônibus.
A intenção de ter a nossa feederline é a curto prazo. A intenção é fazer uma operação capilar para fazer o feeder das linhas principais com os Airbus, e com uma aeronave menor fazendo a ligação com cidades menores do interior, trazendo passageiros para nossos hubs. As aeronaves de nossa feeder deverão ser jatos acima de 50 assentos e interligar com nossa rede do rodoviário.

Aviação Brasil: Pelas opções que há no mercado, Aviação Brasil entendeu pela resposta que muito provavelmente a Itapemirim parta para aeronaves Airbus A220 ou Embraer 170, com menores chances.

Barros: No plano de médio longo prazo existe chances para um Widebody, como um Airbus A330 ou A350?

Tiago Senna: Eu diria que seria muito precipitado de nossa parte já querer alçar voos internacionais e todos nós sabemos que os voos internacionais são os mais críticos de todas as companhias aéreas. Primeiro vamos estabilizar a empresa na operação nacional, bem estruturada, depois a operação feeder, montar o cargueiro, e ai sim, se justificar e tivermos boas opções e oportunidades, vamos pensar no internacional, mas isso é a longo prazo, falando de operação widebody. A operação internacional curto, para Buenos Aires e Montevidéu, isso podemos fazer com o Airbus A320, e está no nosso Business Plan sim.

Barros: O serviço de bordo será simples, gratuíto ou pago com opções?

Tiago Senna: O Sidnei Piva, o dono da empresa, tem como uma das premissas que é a qualidade. Ele quer ter um diferencial. Ele costuma dizer que, eu diminuo minha margem de receita mas não deixo de atender bem meu passageiro. Todo serviço de bordo será gratuíto. É proibido falar de pagar por alguma coisa ou vender alguma coisa.

Barros: A sede administrativa está localizada onde?

Tiago Senna: Hoje estamos na Rua Funchal, em São Paulo, e estamos nos mudando para próximo da Garagem da Itapemirim, na Vila Guilherme, em São Paulo, em breve.

Barros: Quem está a frente hoje da TI da Itapemirim?

Tiago Senna: Hoje é Daverson Carnelose. Temos uma equipe grande de TI, do corporativo e do aéreo, trabalham em sinergia. A equipe do corporativo coordena todo o processo e a do aéreo todo o processo do aéreo.

Barros: Haverá alguma estratégia de inteligência artificial para iteragir com os clientes, com base nas buscas realizadas no site, e também, baseado no valor de oferta da concorrente, alguma ação de inteligência para alavancar uma promoção em determinado trecho?

Tiago Senna: Nós estamos colocando várias ferramentas e fechamos contrato com uma grande empresa de CRM. Ela veio trazendo algumas oportunidades e novidades muito boas. Temos ferramentas internas de análise de tarifa em tempo real da concorrência, revenue management e sabemos que tecnologia será um grande diferencial de nossa empresa. Estamos investindo muito em tecnologia!

Barros: Quem é hoje o principal fornecedor de tecnologia da informação à Itapemirim?

Tiago Senna: Quando falamos de TI falamos de vários proudtos. Não temos um principal fornecedor. Hoje temos um ERP Oracle, o ERP do rodoviário que é Totvs, temos sistemas de navegação, entre outros. Temos hoje contratos com a Oracle, Collins, Airbus NavBlue, Jeppessen.

Barros: Sobre inovação e canais de atendimento, quais canais serão os principais pontos de atendimento aos clientes? Central de atendimento, Chatboot ou whatsapp?

Tiago Senna: Sobre nossa central de atendimento, chatboot, não está no nosso plano inicial. Queremos um atendimento humano no começo para mapear os possíveis problemas e questionamentos dos usuários. Depois com o historico, é possível criar uma base de conhecimento e empregar uma tecnologia como o próprio watson, da IBM. Mas os primeiros 6 meses será um laboratório, depois a nossa equipe de TI e marketing fará as análises para ver qual caminho será trilhado.

Barros: Quantas vagas administrativas a companhia espera gerar em 2021 com seu crescimento?

Tiago Senna: Hoje na fase pré implantação já temos 35 pessoas. Para 2021 no mínimo o triplo, 90 pessoas no administrativo.

Barros: Quantas novas vagas para tripulantes (pilotos/comissários) devem ser geradas em 2021/2022 com o início de operações da empresa?

Tiago Senna: As pessoas que admitimos agora é para o start da companhia, o que dá um número de 6,4 tripulantes por aeronave, o que é um número baixo, abaixo do ideal, mas como não temos ainda férias, treinamentos, isso nos permite começar com um número menor. A ideia é crescer para 8 tripulantes por aeronave durante o ano de 2021, onde devemos fechar com 20 a 25 aeronaves, ou seja, teremos mais 160 posições de pilotos e copilotos, além de comissários. Para 2022 devemos fechar com 30 aeronaves. Nossa intenção será trazer uma nova aeronave por mês, isto se a demanda permitir e justificar.

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Last Updated on outubro 16, 2021 by Alexandre Barros (Aviação Brasil)